Desde o final dos anos 1980, o centro do Rio de Janeiro vem passando por um processo de revitalização, com a requalificação de espaços públicos e o restauro do patrimônio histórico e arquitetônico. Há ainda edifícios de escritórios em construção no bairro central de Cidade Nova, propostas para recuperar a zona portuária e o eixo da avenida Presidente Vargas. O objetivo é renovar o perfil da região e o interesse do mercado imobiliário.
Recentemente, o centro do Rio ganhou ao menos dois empreendimentos corporativos de grande porte. Em fins de 2004 foi inaugurada a Torre Almirante. No segundo semestre de 2008 foi a vez do primeiro dos dois edifícios que formam o Ventura Corporate Towers – torres gêmeas de 34 pavimentos implantadas nas imediações das sedes da Petrobrás, da Caixa Econômica Federal e do BNDES. “Para fazer o planejamento do Ventura tivemos contato estreito com o Iphan [órgão nacional de preservação do patrimônio], pois ele se localiza em área abrangida pelo Corredor Cultural e em que o plano urbanístico original já estabelecia cotas e gabaritos”, explica Roberto Aflalo Filho, um dos autores do projeto.
O empreendimento ocupa o último grande terreno da avenida República do Chile, via cortada por passarelas posicionadas a quatro metros de altura. O térreo, com pé-direito de nove metros, está exatamente no nível das passarelas, formando uma esplanada para pedestres ao redor da construção. Nas laterais e nos fundos há áreas comerciais destinadas a lojas e praça de alimentação. Por um acordo com a municipalidade, a rua do Senado, que está seis metros abaixo na parte posterior do lote, foi prolongada durante as obras para simplificar o acesso à avenida lateral.
A volumetria do conjunto resulta dos recuos obrigatórios e do gabarito máximo de 140 metros na área. “O terreno é bem grande e utilizamos todo o coeficiente de aproveitamento”, detalha o arquiteto. Quando finalizada a segunda torre, os dois prédios contíguos, quase quadrados, formarão um bloco único, marcado frontalmente por um chanfro triangular que começa largo na parte inferior e vai se estreitando à medida que sobe, numa referência direta à vizinha Catedral Metropolitana. Para formar o coroamento, os dois blocos se separam e configuram um terraço no 27° pavimento, logo acima da casa de máquinas dos elevadores que atendem às zonas mais baixas. As faces laterais são constituídas por uma placa que se desprende da pele de vidro e ressalta a modulação dos andares. Em cada um dos blocos, essa placa ganha continuidade para formar os helipontos da cobertura. “A segunda fase é o espelho da primeira. Trata-se de um prédio único, construído em duas etapas porque essa foi a estratégia de investimento”, comenta Aflalo.
O Ventura é um dos primeiros edifícios do país a obter a pré-certificação Leadership in Energy and Environmental Design (Leed, desenvolvida pela organização norte-americana United States Green Building Council), e segue as regras do Leed-CS(Core and Shell, para núcleo e envoltórios). A intenção de obter o certificado surgiu após o início dos projetos, o que implicou revisões para adequar o empreendimento aos parâmetros de certificação. “Foram adaptações pontuais visando especialmente maior economia de energia elétrica e a inclusão de itens como bicicletário e vagas preferenciais para veículos movidos por combustíveis menos poluentes. Não houve uma mudança estrutural”, esclarece o arquiteto.
Entre as características que merecem destaque está a relação WWR, proporção entre elementos translúcidos e opacos das fachadas, que visa conciliar a entrada de luminosidade e reduzir a passagem de calor para otimizar os sistemas de ar condicionado e de iluminação. A WWR no Ventura é de 58% de superfícies translúcidas e 42% de áreas opacas. Para melhorar o desempenho térmico, os módulos de visão das fachadas apresentam laminado refletivo verde de dez milímetros (6 + 4), com PVB incolor de 0,38 milímetros mais cristal verde de quatro milímetros. Esse conjunto oferece índice de transmissão luminosa de 23,8%, coeficiente de sombreamento de 0,38 e fator solar de 32,86%. Nas frentes de laje, foi aplicada uma composição diferente, com laminado refletivo verde oito milímetros (4 + 4), com PVB incolor de 0,38 e cristal verde de quatro milímetros. A fim de barrar a difusão de calor para as áreas internas e aumentar o conforto ambiental foram previstas pintura refletiva no acabamento dos helipontos e fachadas e cobertura verde no edifício-garagem.
O sistema de iluminação artificial emprega recursos como acionamento independente e lâmpadas econômicas. A própria modulação, com vãos de 7,5 a dez metros entre os pilares periféricos e de até 12 metros no núcleo, propicia o bom aproveitamento da luz natural. O uso racional da água, com economia de 30% no consumo, é garantido por torneiras temporizadas, sensores de presença nos mictórios e sanitários com válvula de descarga seletiva. Além disso, o empreendimento conta com reservatório de águas pluviais e de reúso. Atendendo ainda aos critérios do Leed, a obra emprega percentuais elevados de materiais fornecidos na região e de produtos recicláveis. A madeira utilizada na construção é 100% reciclada.
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 354 Agosto de 2009