A unidade Perdizes do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, é um edifício de volumetria horizontal, que faz da afinidade com a morfologia densa do entorno o argumento de um projeto baseado no máximo aproveitamento do lote. Tirando partido das qualidades do tecido urbano, seus recuos, fluxos e visuais, priorizou-se a implantação compacta, em monobloco, mas que parece se desmembrar em altura, acompanhando as faces de alinhamento do lote.
A concepção arquitetônica teve início em 2006, com a avaliação fundiária e a consultoria em legislação urbana. Naquele ano, a aprovação da lei municipal 14.242, de incentivo à implantação de hospitais, delineou novo panorama legal para a construção da unidade especializada em oncologia, principalmente pelo coeficiente quatro de aproveitamento. Esse potencial extra poderia ser utilizado vertical ou horizontalmente, explica Adriana Levisky, autora do projeto ao lado de Arthur Brito, arquiteto do escritório Kahn do Brasil. A opção recaiu sobre ahorizontalidade, que facilita o fluxo de pacientes e da equipe médica.
A proposta previa que, além de humanizada e funcional, a unidade hospitalar deveria ser sociável. Adriana relata que, já no projeto que ela havia desenvolvido anteriormente para o plano diretor da sede do Albert Einstein, no bairro do Morumbi, esteve às voltas com o princípio da criação de espaços humanizados, qualidade que tem impacto em várias escalas, desde o sistema construtivo até a ambiência interna.
Um dos diferenciais do empreendimento é a inserção em região consolidada da cidade – ainda que de uso predominantemente residencial -, o que, em comparação com as grandes massas edificadas que a constituem, fez com que os escassos recuos do Einstein tivessem impacto atenuado no entorno. Colabora para isso a angularidade da face frontal do edifício, desmembrada em duas fachadas suspensas de vidro grafite, insulado e serigrafado.
Elas estabelecem a relação direta do ambiente hospitalar com as referências urbanas locais, pois osgrafismos que as individualizam – um, linear e horizontal; o outro, um mosaico colorido – comunicam interna e externamente o posicionamento relativo da edificação. As áreas sociais e de atendimento são lindeiras às superfícies envidraçadas, que, na esquina, voltam-se para a avenida Sumaré. Os setores de serviço prolongam nos interiores o eixo funcional de acesso pela rua Apiacás.
Estruturalmente, a série de pilares periféricos e ocore central, ambos de concreto, geram a planta livre do hospital em Perdizes, a fim de melhor acomodar o complexo programa. Em termos gerais, cada laje foi dividida em dois setores paralelos, delimitados pelo núcleo de escada e elevadores: a parte da frente tem vocação social, com salas de espera, de atendimento e cafés, enquanto na posterior predominam as áreas de serviços.
A interlocução da arquitetura com o empreendimento hospitalar é bem específica, relata Adriana. “São várias equipes e sistemáticas de trabalho, como se fossem vários clientes”, cujas demandas precisam ser orquestradas por uma diretriz maior. No caso, a da socialização e dos mínimos deslocamentos verticais, mesmo considerando tratar-se de uma edificação com dez pavimentos no total, metade aérea e metade enterrada.
No que se refere à sustentabilidade, a meta é obter o certificação Leed na categoria Prata. “Trabalhamos com fachada ventilada associada à pele de vidro insulado, cuja coloração grafite reduz a incidência solar nos interiores”, conclui a arquiteta.
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 369 Novembro de 2010